Ok, imaginem que é escuro e estão em casa ou no trabalho. Nisto, vai-se a luz. Vai-se, assim sem explicação, sem nada que dispara, assim… primeira reacção? Preocupação, irritação, chatice, procurar vela/lanterna/telemóvel, ligar pra companhia electricidade (“que isto é uma vergonha”)… pois é…. A luz! Algo tão básico e garantido para o “ocidental”, aqui é um recurso precioso - parcimonioso até- que, juntamente com outras coisas que consideramos naturalmente adquiridas como a água e a gasolina, faltam constantemente e em horários absurdos durante o dia. Aqui o mapa dos cortes de electricidade semanal:
Então, isto significa que: se por exemplo trabalhas com PC num escritório que dependa só da eletricidade estatal, na 2ªfeira só podes trabalhar entre as 11h e as 15h durante o dia, o multibanco só funciona nessas horas, a comida que tens no frigo tens que a consumir logo, ou então tens mesmo que comprar um gerador poluidor/ruidor. Conseguem imaginar a dificuldade de 30 milhões de pessoas que estão afunilados entre os desenvolvimentos fenomenais da China e da India e que tentam recomeçar eles também, mas sem energia?E esta é a plataforma para qualquer coisa, aliada às chuvas a partir das 4 da tarde que impossibilitam obras e deslocações…. Portanto, a vida nepalesa rege-se pelo deus Sol que ás 6 obriga a levantar antes que o galo se aperceba e ás 18h40 manda abruptamente regressar a casa.
A vocês então “umas luzes” sobre o quotidiano daqui:
Para melhor aproveitar a luz solar (e fugir ao calor paralisante), acordo todas as manhãs às 6h45 e tento terminar o pequeno-almoço um pouco antes que chegue o meu Guruji por volta das 07h30. Quase todos os dias tenho 1 aula de nepalês diretamente no balcão em frente ao meu quarto. O meu professor de língua, Chetji (o nome é Chet mas o sufixo “ji” é adicionado em sinal de respeito – eu também sou Saraji), vem ter comigo e ensina-me o que preciso de saber sobre a língua/cultura num curso especialmente desenhado para ocidentais apelidado de “curso para ajudar a sobreviver no nepal”.
Depois cada dia é diferente a partir daí…
Hoje por exemplo tive que adiar a aula de nepalês pois foi a celebração do Dia da Terra e a minha ONG aqui organizou uma projeção do filme “One day on earth” num cinema de Pokhara, mas… ás 8 da manhã!
Público principal da sessão de cinema |
Todos tinham visto os posters pela cidade e com o aval do superintendente colocaram-se em fila em frente ao cinema, pedindo que o filme parasse para poderem vir ver todos! Incrivel! Durante 90 minutos estiveram todos contentíssimos (e a tirar fotos ao ecrã!) ali sentados no cinema a ver o filme que foi feito a partir de 3000 horas de filmagens pelas pessoas de todo o mundo no dia 10.10.2010 – só mais um dia na terra. No final fiz-lhes uma mini-entrevista em meio nepalês-inglês e adoraram todos – principalmente as partes em que apareciam imagens do Nepal.
![]() | |
Equipa da Alternatives ONG |
Últimas luzinhas:
Como o meu voluntariado segue o ritmo solar e elétrico, quase nunca estou no escritório e livremente organizo o possível para cumprir os objetivos sem raízes numa cadeira e num PC basilares. Dherai raamro (em nepalês “muito fixe”) para mim que prefiro total autonomia nesta altura, assim posso tentar viver tudo mais descentralizadamente, ir curiosar nos cantos sem passeios, subir degraus imaginários nas colinas de Pokhara e Kathmandu e descobrir o que já sabia mas não me recordava…
Em breve espero conseguir levar-vos em palavras também pelas pequenas vilas de Pokhara, nasceres-do-sol nos Himalayas, retiros de meditação e filosofia budista, o que se pensa e se faz… Nepalando.
Como o meu voluntariado segue o ritmo solar e elétrico, quase nunca estou no escritório e livremente organizo o possível para cumprir os objetivos sem raízes numa cadeira e num PC basilares. Dherai raamro (em nepalês “muito fixe”) para mim que prefiro total autonomia nesta altura, assim posso tentar viver tudo mais descentralizadamente, ir curiosar nos cantos sem passeios, subir degraus imaginários nas colinas de Pokhara e Kathmandu e descobrir o que já sabia mas não me recordava…
Em breve espero conseguir levar-vos em palavras também pelas pequenas vilas de Pokhara, nasceres-do-sol nos Himalayas, retiros de meditação e filosofia budista, o que se pensa e se faz… Nepalando.
Olá Sara!
ResponderEliminarGrata pela sua partilha! Tive conhecimento do seu blog através do site da sua ONG o qual me foi apresentado num mail enviado pela sua ...Mãe.
Desta vez :) sou professora de Inglês na Escola Gil Eanes em Lagos e como referi várias hipóteses de ' Gap Year' acabei por apresentar aos meus alunos de 11º ano a hipótese de um voluntariado e o seu blog. Espero que não se importe!
Que desfrute de um bom Wesak!
Abraço!
Ana Beatriz Filipe
Uma delicia o teu "Carnet de voyage" Saraji...muitas descobertas interressantissimas sobre o longico Nepal.
ResponderEliminarApos ler o teu relatorio de Abril fiquei com muita curisosidade do que a ONG Alternatives trata e desejo te
muita luz a caminho...Abraços